Ventos de paixão
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Não me importa caminhar no fogo
Mas só se for o teu.
Não tenhas medo do desafogo
Mas aceita este só meu.

Não vejas a minha sã fraqueza
De te querer só para mim.
Procura nesta vontade ilesa
Uma honestidade sem fim.

Aplica no teu coração
A mais simples espada real.
Está tudo na tua mão
Elevares ao céu este meu mal.

Apressa-te apenas a ver
De que é feito este estado.
Pois os dois podemos perder
O que um ao outro podiamos ter dado.
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Vasco Pompaelo*
A teoria do acaso
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Soletrando a esperança de tórrida depravação social,
andamos flàcidamente em volta de um ninho afectuoso.
Não trocamos por nada visível e limpo tudo que de aqui
trazemos.
É uma pureza que queima aos olhos dos que nos observam
com um desprezo egoísta e indisfarçadamente invejoso.
Não queremos viver melhor, apenas mais, mais em divina
dedicação à nossa essência.
De bem com as raizes que nos dão imaginação.
Sem aquela camada que cobre a alma e a pele e que fomenta
o vosso pior cancro. O existêncial.
Aqui não se pensa , busca-se.
Aqui não se inventa, vive-se.
Por aqui não se escava, desenterra-se.
Não queremos sentir, queremos magoar.
Vivemos uma lúcidez abrangente e ao ritmo da vossa mais forte
alucinação.
Não temos filosofia nem psicologia, temos o dia a dia com uma
fome de pantomina.
Não somos a grande fonte nem o dentífrico perfeito,
não somos a força astral nem o canto xamãnico,
simplesmente vivemos...
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Vasco Pompaelo*
Hoje é daqueles dias que gostava
de estar conscientemente inconsciente.
Assim de uma forma um pouco perdida
ao mesmo tempo que encontro a solução.
Quero sangrar sem me cortar,
mas sentir a dor para poder
curar.
Sou contra paralelismos, prefiro contrariedades.
A perfeição não cria nada.
Apenas destrói a natureza do
comportamento.
Um monte de castrados racionais,
cheios de plumas morais aonde se
opõe o essencial. A perversidade.
Que nem uma pulga canonizada,
procuro o cão que me leve deste
pântano fantasmagórico.
Até à minha perdição.
Até à nossa conclusão.
Até parar de dizer não.
Pós de forma
.
Em estado atónito,
quase póstumo,
costuro as fendas
num ávido esforço
de consciência.
É tudo que me
alimenta.
Uma trépida faúlha em
luta com uma vibração
constante de estática
residual.
Sem qualquer flacidez
de mórbidas posturas
que nem sempre se
devem evitar.
O escuro torna-se
um lugar iluminado
para a minha alma.
Uma outra porta para
as questões épicas
que se fazem á nossa
triste ética da medula.
Tudo que se põe em causa
é nossa vida,
e é lindo.
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Vasco Pompaelo*