Mais ao menos
.
Consciente da inconsciência
trabalho a preguiça porque
ao acelarar a travagem
rapidamente fico sem pressa.
.
Ao agarrar aquilo que larguei,
sem copiar o original,
acabo a amar o ódio
brincando ao sério.
.
Fico em silêncio a gritar
um ritmo desorganizado
esquecendo-me das memórias
dos dias passados á noite.
.
Sendo o custo da oferta
fruto de uma simples complicação,
precipito-me quando cuidadosamente
rumo ao final deste inicio de vida.
.
Vasco Pompaelo*

Esboço

Aglutinado por entre estas
paredes feitas de ansiedade
rastejo para puder respirar.
Tornar-se um pouco
cansativo ao aperceber-me que não tenho
saida.
Isto controla-me.
Nem consigo pensar.
Por mais que tente, ando á volta
a alimentar uma tortura crónica.
Subsidiado por um comportamento
vulgar, exponho o que de mais fraco
tenho.
No fundo estou a pintar o esboço
daquilo que nunca sonhei ser...

Vasco Pompaelo*
Celuço

Enquanto vivo, a estrada muda
Nada mais fica, nada perdura.
Mas algo me segue, me dá pistas,
Pois com esta arma persigo artistas.

Rastejo a escarpa do monte negro
Aguardando a chegada ao degredo.
Visto a honra e a farda lírica
Pois sei bem onde vai esta bela satírica.

Aperto o coração com uma força bruta
Pois daqui já não sai o filho da puta.
Consciente ou não apago as memórias agradáveis
Não faço mais disto passos indesejáveis.

De pé, aplaudindo a parada
Faço de mim, ao espelho, uma fada
Sem milagres, luxos ou efeitos
Arranco pela raíz todos os preconceitos.

Vasco Pompaelo*
Atento, talvez até demais
Tormento, o caminho por onde vais

Expiraste. Tudo aquilo que podias ser,
já foi.
Não me parece que possas voltar atrás.
Mas porque é que fazes isto?
Não vês? Não sentes?
Será que não percebes?
A podridão dentro de ti abraçou-te.
Fez do teu corpo e do teu ser
uma ferramenta social.
É um trilho corrosivo aquele que
caminhas.
Fazes da tua vida um purgatório.
Tenta ao menos perceber
que apenas em ti está a
escolha.
Não é de ninguém.
Não vem de ninguém.
Não é para ninguém.
Apenas tua. Só tua.
Para te fazer bem.
Gostava de poder ser uma luz para ti.
Mas como já devias ter percebido,
a minha vida é minha.
Para mim.
Não tua.
Para ti.

V. Pompaelo*

Disparo

Odeio-vos. Quero-vos mal.
Não estou totalmente indiferente a voçês.
Quero que sofram.
Merecem rastejar sem saber para onde.
No meio da lama e do caos.
Respiram merda. Expiram podridão.
Seres minúsculos com antenas de ignorância.
Conspiradores de actos tristes.Repugnantes.
Definitivamente inferiores.
Arraso a minha calma e senso só de pensar na vossa existência.
Moralistas. Hipócritas.
Exemplo máximo de um povo,
de uma maneira de estar.
Corrompidos pela desgraça iludem-se com estatutos.
Salvaguardam os corpos e réstias de alma
com rituais dominicais enganadores.
Mas não estão sós,
há mais exemplares dessa vossa espécie mesquinha,
consumindo agentes poluidores mentais.
E não se cansam.
Dependentes de uma independência lirica.
No bilhete de identidade os anos passam.
Mas na cabeça cada vez mais escassam.
Protegem-se.
É normal.
Mesmo na desgraça não querem estar
sozinhos.
Pois, como devem saber,
De mim,
já só verão a sola do meu sapato.

Vasco Pompaelo*

O meu pequeno e clássico quarto

Luz, não quero luz.
Não me tirem esta escuridão
Que tanto preciso, tanto quero.
É este o meu rumo.
Esta a minha rota.
Quando me cruzo comigo
Vejo bem a minha expressão.

Nada me consome mas tudo me atinge.
Não quero ser orfão de mim mesmo.

Até aos fins dos meus dias
Espero puder ir um pouco mais além.

Pois a vida não tem sentido
Se não te puderes arruinar um pouco.

V. Pompaelo*
Fluxo em Espiral

Parece que estou
Num barco a remos
Numa lagoa sem margens.

Olho para o calendário
E conto os dias um a um
Num ritmo preocupante.

Quero adiantar o tempo.
Quero pôr o meu corpo
No meu sonho.

Mas só consigo ouvir o eco do meu passado.

V. Pompaelo*

Nobre Lugar

Lugar feito de acrílico
Iluminando a passagem do
Sangue do corpo para a alma.

Estética a balada do medo
Dança a confirmação do
Momento.

Apalpo o musgo na minha
Desnorteada mente, sinto-lhe
A frieza e
Falta de lógica.

Podando na diagonal o arbusto
Que rodeia a destreza
Luto contra mim.
Contra o que não quero.

Qual cabana no meio do monte
Envolvido por aragens
Húmidas, virtuosas e
Desconcertantes.

Obrigado, fico a compor uma
Nota á qual não posso, não
Quero, não vou…fugir.


Embalo-me com uma mão enquanto
Outra atrai momentos secos de vida
Como um cão atrai carraças..
Vou aguardar.

Vasco Pompaelo*
Prepucio

Atento aguardo que este
Momento afogue todos.
Não fui eu que construi
A muralha.

Apagado o sol faz
Aquilo que pode.
Enquanto o vento permite
Que este mundo rode.

Atacado por bençãos
Consome-se o arrependimento
So vos posso ajudar
A acabar com o tormento.

Vasco Pompaelo*
Dedicação em vão
.
.
Através desta onda
Empurrado pela vaga
Distorcida,
Flanqueio aquilo que já
Não posso evitar.
A tormenta.
Pois assim há-de ser sempre
E ainda bem.
Pisando sentimentos e dúvidas
Rasgo o ar em busca
Da palma da mão
Que não me vai esmagar.
Entretanto canto e danço
Ao som de um ritmo
Flácido.

Faço de conta que gosto.

Até procuro esculpir
Em mim um certo
Sabor doce.
Pode ser que com
Este esforço acabe por
Acreditar nas evidências
Que nos são trazidas
Em caixas de ouro.

Não vale a pena.

Vasco Pompaelo*

Sonho seco

Encosto a cabeça à almofada
e percorro a tua estrada dubia
contemplando o espaço decorado de
falsos sonhos.
Não passam de nuvens que se
diluem enquanto caminho guardando
farpas de realidades miseras.
Não deixo entrar ninguém.
Isto não é para partilhar.
Egoísticamente faço desta situação
o meu purgatório intimo.

Vasco Pompaelo
Olho fusco

Além do que aqui se
consome, pondo de
lado a estupidez,
procuro tocar no mais
doente e nojento verme.
Sou dependente do viscoso,
rugoso, proscrito.
Repugnante até para os mais
exemplares diminutos seres.
Mas vivo bem com isso.
Quando escavo os meus
sentimentos,
acabo num lugar esquisito,
frio, escuro, mas, único,... meu,
eu.
Tiro de lá aquilo que sou.
Aquilo que quero.
Onde me sinto bem.
Não quero companhia,
mas quem vier
da enxurrada não consegue
escapar.
Passando a mão no meu
cabelo, a mente acena
ao corpo e dá-lhe confiança
e sumo para esta loção.
Esta minhoca que rasteja por
aqui, mantém-se firme.
Até ao fim.
Não ditado por ti.
É o destino.
Quem vive para alguém,
não merece ninguém.

Vasco Pompaelo*
Nah

A água escorre-lhe
pelo corpo, alcançando o meio dos
seus peitos, lindos, longos...
Pele como algodão,
face de cera,
todo um corpo que
faz tremer o mais
rijo alcatrão.
Minha mão desliza como um
barco num lago de ouro.
Sem comandante, apenas
ligado ao mais puro
sentimento.
O de criança. Rendida
à imensidão que é sentir,
viver,
sem pensar,
sem renegar.
Puro.

Vasco Pompaelo*

Revolta saturada

Aterrorizado o animal tenta
sair.
Está encurralado numa
desiquilibrada manta verde
feita de vento.
Inseguro como um coelho na
floresta, sobrevive.
Contorce-se só de pensar
que pode nunca mais sair
deste lugar fantasma.
Força, astúcia e muita
persistência são a chave.
Ladeando o meio que o
regula sabe que os seus
próprios obstáculos são maiores.
Um dia a felicidade sopra
e o céu azul como os
olhos de uma deusa ficará.
Subtis e finas lanças
de beleza branca com grinaldas
ofuscam a imensidão negra
que cobria o seu rosto.
Um servo de si mesmo
que um dia se escravizou.

Vasco Pompaelo*
Pontiagudo toque de aviso
Fez-me acordar como se
Nunca tivesse adormecido.
Como uma cobaia sustentada
Por uma ignorância forçada
Nem o mais reles pensamento
Me abandona.
Assim faço-me perceber que
Estou bem.
Vazio de qualquer
Sentimento, medo ou ansiedade,
Só a espera me incomoda.
Nunca gostei de ver o tempo
Passar e não poder andar.
O cheiro, o ar, a realidade,
Isso sim não me perturba.
O sofrimento inesperado,
Incombativel
Já não depende de mim.

Vasco Pompaelo*

Simplesmente, tu

Aprazivel, até mesmo apetecivel,
Esse tesouro de estilo antigo
mas beleza moderna.
Um tanto maltratado,
Embora nunca rebaixado,
Pois aquilo que lhe dá
Eternidade não pode ser
Negado ou ignorado por
Qualquer mortal.
Pois bem, assim ficas a
saber,
És intocável.

Vasco pompaelo*
Ponto final

Aconchego estapurado este.
Feito de momentos afiados como
lâminas.
Com uma insegurança atraente.
Um caminho desconhecido.
Uma estrada sem indicações.
Que posso fazer?
Sou forçado a bater outra
vez nesta porta.
Somente porque quero.
Quando não sinto meu
coração a bater
é aqui que me sinto vivo.
Interrogações que tentam
intimidar-me são totalmente
substituídas por sensações
fisicas inquestionáveis.
Daqui não saio.
Aqui voltarei.
Por aqui ficam as minhas
interrogações.
Ponto final.

Vasco Pompaelo*
Filoxera

Assim,
com uma consciência esmurrada contra
o senso de se ser alguém válido,
saboreada com pontuais atitudes complementadas com
um vazio na capacidade de raciocinio,
dão um sabor amargo a toda esta
situação.
És um ser tão vazio que nem eu
achava ser possivel.
Impressionante como nem há capacidade
para contornar a mais acessivel das barreiras.
A que vai cá dentro.
Continua.
Eu já não quero saber.
Eu já nada tenho a perder
Agora sou eu que te dou razão,
força e vida para a tua
miserável existência.
Como posso eu estar ligado a ti?
Asqueroso.
Já não acredito em milagres.
Desisto.
Mas consigo fazer paródia
da tua desgraça.
Vou tirar o maximo disto.
Desgraçado aquele que pensa que
faz de mim um fantoche.
Acaba como tu.
Marioneta de segunda,
galhofa universal.
Um trapo sem ninho.
Não te esqueças,
a minha vida
é ver-te morrer.

Vasco Pompaelo*
Sangue

Sangue, sangue, que coisa linda.

A uns lembra morte.
A mim, vida.

Sem ele não sofremos.
Sem ele não amamos.
Sem ele não percebemos
Tudo aquilo que conquistámos.

V. Pompaelo*